Em agosto e início de setembro de 2024, incêndios florestais intensos devastaram várias regiões da América do Sul, lançando grandes nuvens de fumaça sobre o continente. O Brasil e a Bolívia enfrentaram níveis de atividade de incêndios que não eram vistos desde 2010, impulsionados por uma longa seca que deixou as paisagens extremamente secas.
A partir de uma distância de cerca de 1,6 milhão de quilômetros da Terra, a câmera EPIC (Earth Polychromatic Imaging Camera), a bordo do satélite DSCOVR (Deep Space Climate Observatory) da NASA, capturou uma imagem impressionante de fumaça que se espalhava pelos incêndios em 3 de setembro de 2024.
Fumaça Cobre o Brasil
Em meados de agosto e início de setembro, a fumaça dos incêndios no Brasil atingiu a capital, Brasília, e se espalhou por várias outras regiões. Durante vários dias, São Paulo foi coberta por uma espessa camada de fumaça, tornando a qualidade do ar perigosa para grupos sensíveis, de acordo com o AirNow. A fumaça forçou o cancelamento de voos e levou ao fechamento de escolas na cidade mais populosa do Brasil, conforme relatado pelo The Guardian.
Temporada de Incêndios na Amazônia
A temporada de incêndios na Amazônia Meridional, que geralmente começa em agosto e atinge seu pico entre setembro e outubro, tem sido particularmente intensa em 2024. De acordo com o Serviço de Monitoramento Atmosférico Copernicus (CAMS), um componente do programa espacial da União Europeia, as emissões de incêndios florestais foram excepcionalmente altas na Bolívia e nos estados brasileiros do Amazonas e Mato Grosso do Sul.
O CAMS utiliza o Sistema de Assimilação Global de Incêndios (GFAS) para estimar as emissões de incêndios em tempo real, agregando observações feitas pelos sensores MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer) dos satélites Aqua e Terra da NASA. Em comparação com os últimos 21 anos, essas regiões registraram seus maiores totais de emissões anuais até o momento, com 44, 22 e 13 milhões de toneladas métricas de carbono emitidas, respectivamente.
Impacto no Pantanal
A região do Pantanal, que se estende entre a fronteira Brasil-Bolívia e abriga uma das maiores áreas úmidas tropicais do mundo, foi duramente atingida em 2024. Incêndios intensos começaram a se espalhar pelas áreas úmidas no final de maio e continuaram até agosto. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) do Brasil, em junho de 2024 foi registrado um número recorde de detecções de incêndios no bioma, com as chamas continuando em níveis elevados nos meses seguintes.
Imagem de Satélite de 3 de Setembro
A imagem em cores falsas, adquirida pelo OLI (Operational Land Imager) do Landsat 8, mostra os incêndios perto de Ascensión de Guarayos, no estado de Santa Cruz, Bolívia. A imagem destaca as áreas queimadas (em marrom) e a vegetação não queimada (em verde). As bandas de infravermelho próximo e de onda curta ajudam a penetrar na fumaça para revelar as áreas quentes associadas a incêndios ativos, que aparecem em laranja.
Até 6 de setembro, os incêndios consumiram mais de 10 milhões de hectares na Bolívia, o que corresponde a cerca de 9% da área total do país. Das 42 milhões de toneladas métricas de carbono emitidas na Bolívia entre maio e agosto, 33 milhões de toneladas vieram dos incêndios no estado de Santa Cruz, de acordo com Mark Parrington, cientista sênior do CAMS.
Deficiência de Chuvas e Condições Climáticas
Muitas partes da América do Sul enfrentaram déficits significativos de chuvas nos últimos três meses. De acordo com o ECMWF (Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo), isso levou a uma “seca excepcional” – a classificação mais alta de seca – em grande parte das regiões central e norte do continente. O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais do Brasil (CEMADEN) observou em 5 de setembro que a alteração dos padrões de chuva causada pelo fenômeno El Niño, o aumento das temperaturas devido às mudanças climáticas e a redução da umidade devido ao desmatamento foram fatores que contribuíram para a seca.
Consequências e Preocupações Futuras
Com o agravamento das mudanças climáticas, a intensificação dos incêndios florestais na América do Sul é uma preocupação crescente. Os impactos negativos na biodiversidade, nas comunidades locais e na qualidade do ar são significativos, e o aumento das emissões de carbono dos incêndios florestais contribui ainda mais para o aquecimento global.
Monitorar e mitigar os efeitos dessas mudanças é essencial, e a cooperação internacional, através de iniciativas como a da NASA e do CAMS, é crucial para entender e combater os incêndios florestais que devastam o planeta.